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domingo, 21 de julho de 2013

Eugenio Castellotti

Fino, elegante, galanteador; Seus modos contrastavam com seus companheiros naqueles primeiros anos da era da F-1;Eram típicos de quem nascera em uma família rica, poderia passar facilmente por um membro da nobreza;Dotado de um talento excepcional nas pistas, era a mais promissora esperança dos italianos após Ascari e Farina... mas uma aposta estúpida de seu chefe o vitimou fatalmente; seu nome era Eugenio Castellotti.



Eugenio Castellotti nasceu em 10 de outubro de 1930, na pequena cidade de Lodi, na Lombardia;
Eugenio vinha de uma abastada familia de Milão,e embora tivesse crescido em meio ao caos da II Guerra Mundial, teve uma infância e adolescência relativamente tranquila;
Milão era nesse época a meca automobilística da Itália: sua proximidade com o mitológico circuito de Monza e o fato de ser a casa da mais importante fábrica de carros esportes da Itália,a Alfa Romeo contribuíram para isso; A época do nascimento de Castellotti,era fascinada pela disputa entre o italiano Tazio Nuvolari e sua Alfa Romeo P3 contra o alemão Rudolf Caracciola e sua Mercedes prata;
Tazio era um  herói nacional e influenciou muito o jovem Castellotti;


Nuvolari e a Alfa Romeo P3 em ação nos anos 30

Aos vinte anos, no verão de 1950, Castellotti compra seu primeiro carro, e não era qualquer carro.. a maioria dos jovens italianos mal podiam comprar um surrado Fiat Topollino pré-guerra como primeiro carro,mas o de Castellotti foi uma Ferrari!
A Ferrari estava se firmando como uma grande marca, nas pistas e nos seus modelos de rua; criação de Enzo Ferrari (que foi piloto e chefe da scuderia de Nuvolari: as Alfas dele tinham o "Cavallino Rampante" pintado ao lado do Quadrifoglio milanês);
Com sua Ferrari, Castellotti começa a competir oficialmente em 1951; ano do titulo mundial de F-1 de Giuseppe Farina e sua Alfa Romeo;
em 1952 veio a primeira viória de Castellotti e sua Ferrari como piloto privado,(correndo com carro próprio e não de equipe) : o GP de Portugal.
Ao chegar em 2° na dificil prova da Mille Miglia de 1953, despertou interesse de uma fábrica italiana que havia decidido seguir os passos da Alfa Romeo e Ferrari  na F-1: a Lancia.


Castellotti e a Lancia D-50 de F-1 1955.

Castellotti disputaria a temporada de 1955 com a D-50; era um carro
rápido e bonito, criação do mítico engenheiro da Lancia, Vittorio Jano.
A Ferrari nessa época encontrava sérias dificuldades para se manter competitiva; as Alfas já não estavam mais em ação e a Lancia tornou-se a única capaz de enfrentar as W-196 da Mercedes Benz, que dominavam em todas as pistas;
Porém, ainda em 1955 a Lancia se viu em dificuldades financeiras; Enzo Ferrari vê uma oportunidade única:  trazer para sua equipe, motores,chassis e o trio que fez as Lancias D-50 respeitáveis: Castellotti e Alberto Ascari no volante e Jano na prancheta.


A nata da Lancia : Jano(1° a direita,de chapéu), Castellotti (a seu lado),Alberto Ascari e Luigi Villoresi (último a esquerda)

Assim 1955 estava relevando a promessa de vitórias na temporada seguinte para a scuderia de Maranello, mas um triste episódio marcou de forma negativa aquilo que parecia um sonho italiano:
Castelloti iria testar a novísssima Ferrari 650 Superleggera em Monza; tudo preparado para o teste começar,mas eis que chega Alberto Ascari; este pede para dar umas voltas com o carro antes do almoço.Diante do pedido de seu mentor, e idolo,Castellotti concorda e empresta seu capacete a Ascari..era dia 26 de maio de 1955...minutos após entrar no carro, Ascari se choca violentamente em uma curva e morre,(esta curva hoje tem o nome de "Variante Ascari" em sua homenagem);Uma semana antes, no GP de Monaco, Ascari havia escapado da morte depois de seu Lancia ter caido no mar, após um choque na chicane do porto;


Ferrari Superleggera 1955/1956, que vitimou Ascari

A morte de seu mentor deixa Castellotti profundamente abalado e marca uma terrivel rotina que abateria Enzo nas próximas décadas:a perda de grandes pilotos.


O Comendador Enzo e Castellotti




1956 se inicia, e Castellotti está no esquadrão de elite do automobilismo.. o posto de  piloto da Ferrari; vitorias e atuações brilhantes em provas como 24 Hs de Le Mans,Mille Miglia,12 hs de Sebring e tudo isso ao lado de ninguém menos que Juan Manuel Fangio, que fora contratado pela Ferrari após a retirada das pistas da Mercedes Benz, ocasionado pela tragédia de Le Mans 1955 (ver post sobre Pierre Levegh);
Somado ao sucesso nas pistas, Castellotti estava casado com a bela atriz e bailarina italiana, Delia Scala.


o belo casal : Castellotti e Delia Scala


Castellotti e a Ferrari 156 F-1 em Mônaco,1956

A dupla Enzo Ferrari e Eugênio Castellotti é o orgulho italiano, Castellotti é considerado o "nuovo Ascari".. nada parece ofuscar ou ameaçar o poderio italiano;nenhuma outra equipe de nenhuma outra nacionalidade parece fazer frente aos carros vermelhos "made in Italy";
A não ser outro carro vermelho italiano, e feito em Modena também;
1957: um novo concorrente surge para a Ferrari: sua vizinha Maserati
a Maserati havia estreado na F-1 na temporada de 1954,mas em 1957 finalmente sua obra máxima estava pronta e aprimorada, a 250 F;
a equipe de Adolfo Orsi roubara Fangio de Ferrari, para fazer dupla com o francês Jean Behra.


Fangio e a Maserati 250 F 1957

O circuito de Modena era o território da Ferrari, o recorde da pista lhe pertencia a anos, até o temperamental francês Behra ameaçar quebrá-lo com sua 250 F;Enzo não admitiria isso e apostou com Adolfo Orsi que Castellotti seria sempre mais rápido;  Enzo convocou Castellotti, que interrompeu suas férias com a esposa na Florença para atender um pedido egocêntrico de seu chefe;
14 de março de 1957, 8:00 hs da manhã; Castellotti entra na sua Ferrari pela última vez, começa a sua volta, em ritmo de classificação para atender o que Enzo queria, e então o desfecho trágico; a brutal batida quando a Ferrari desgarrou no Circollo della Biella; numa desaceleração de 137 km/h; a Ferrari com Castellotti voou por 91 mts e se chocou contra um muro de uma área coberta; Ele teve morte instantânea por uma fratura no crânio;


Notem onde parou a Ferrari de Castellotti

Quando soube da tragédia, Enzo Ferrari teria dito: "Castellotti è morto? no! nooooo! e la macchina?
A aposta que havia sido feita entre Ferrari e Orsi? quem perderia pagaria o café; Isso revoltou Luigi Villoresi, veterano e amigo de Castellotti, a ponto deste nunca mais na vida ter dirigido a palavra a Enzo Ferrari;

Tudo isso ficou perdido na noite dos tempos; a rivalidade entre Alfa Romeo,Maserati,Ferrari e Lancia não existe mais, são todas irmãs debaixo das asas protetoras da FIAT;
Não existem mais homens como Enzo, Orsi, Jano; nem pilotos como Castellotti;
Mas seus feitos permanecerão eternos, como marcos de coragem e romantismo;
Castellotti foi sem dúvida, depois de Ascari e Farina, o maior piloto italiano da F-1























sábado, 16 de fevereiro de 2013

Christian Heins

Não deixe se enganar pelo nome;Trata-se de um dos maiores pilotos que o Brasil já teve,juntamente com outros grandes nomes,fez parte no inicio dos anos 60 da mítica Equipe Willys de Competições e foi um dos responsáveis pelo surgimento de uma geração de pilotos que levaram o Brasil ao posto de respeito no mundo do automobilismo.



Christian Heins nasceu no bairro paulistano do Brooklin em 16 de janeiro de 1935; Era filho de um industrial alemão,Carl Heinrich Heins  e da italiana Giuliana de Fiori;
Na infância, pode sentir o clima de perseguição que pairava no Brasil do Estado Novo,contra imigrantes de origem alemã e italiana,devido ao Eixo da II Guerra;passa assim muito tempo com seu avô materno, médico, mas que, como bom italiano, era apaixonado por carros; E essa paixão contaminou Christian; No Ford Anglia inglês de seu avô, aprendeu a dirigir e mesmo capotando o carro,ali nascia seu futuro:ser um grande piloto.

Ao terminar sua formação secundária, decide ir a terra de seu pai,ainda em reconstrução após o tenebroso conflito,e em 1953 desembarca em Stuttgart para cursar a Escola Técnica de Nível Superior;lá enquanto estudava, estagiou na Mercedes Benz e na Mahle,tradicional fabricante de pistões;
Em 1954, então com 19 anos retorna ao Brasil e faz sua estréia nas pistas em 16 de maio, no imortal Autódromo de Interlagos; Interlagos que aquele tempo carecia da mais básica infra-estrutura para competições, o que torna estes bravos de primeira hora, verdadeiros heróis.


Interlagos, julho de 1959, dá para ter uma idéia da
estrutura da época (esse trecho,é hoje o final da reta dos boxes, antes do "S do Senna")

Heins era o mais novo da turma, e logo foi apelidado (por ser filho de uma italiana, e pela maioria dos então habitantes de São Paulo serem também) de "Bambino", que logo viraria apenas "Bino", e assim estava denominada a lenda.

em 1956, na 1° Mil Milhas de Interlagos, ele estava lá, e ao lado de Eugênio Martins, ao volante de um Fusca (ainda importado da Alemanha,o nacional viria apenas em 1959) com motor de Porsche, chega em 2°. Esse VW tinha sido preparado por um homem que teve uma importância ímpar para a cultura automobilística desse país,chefiando nos anos 60, as duas maiores equipes de fábrica e posteriormente sendo um dos fundadores da Puma : Jorge Lettry. Este feito, e com a ajuda do presidente da Mahle no Brasil, fizeram Heins ser contratado pela Porsche, e de 1957 a 1960 ele foi piloto da fábrica de Stuttgart


Heins a bordo de um Porsche 550 RS (provavelmente 1956) 

Heins retorna ao Brasil em 1960, com diversos troféus na bagagem e com uma alemã,Waltraud no coração; E na chegada ao Brasil, ocorre um fato que só em um país administrado por "burrocratas" como o nosso,poderia ocorrer: a Alfândega confisca seus troféus,alegando "não ter nota fiscal" (pode!). Esse fato rendeu uma carta de sua irmã Ornela ao então presidente Juscelino,pedindo a liberação dos troféus;
No regresso se torna piloto da equipe Vemag, organizada pela concessionária Serva Ribeiro (a maior revenda Vemag da época) e chefiada por Jorge Lettry;
Porém nos treinos para a V Mil Milhas, uma briga com o chefe da equipe faz Heins sair e ser substituido por outra lenda :Bird Clemente
Heins disputa a prova com o lendário Chico Landi, a bordo de um FNM/JK 2000 de n°28, sendo vencedor da prova!
A essa época a equipe Vemag de Competições era imbatível, despertando assim o interesse de outras montadoras para o automobilismo, que poderia ser um ótimo laboratório e uma propaganda melhor ainda; a primeira e mais bem sucedida fábrica a seguir o caminho foi a Willys Overland, através de uma decisão de seu presidente, o americano Max Pierce,no salão do automóvel de 1961; Nascia a poderosa Equipe Willys de Competição: seus carros seriam o 1093, um Renault Gordini mais "quente" e o recém lançado Interlagos, versão nacional do Renault Alpine francês ( a Willys apesar de americana, montava veiculos Renault sob licença)


A lendária Equipe Willys dos anos 60

Pela Equipe Willys passaram alguns novatos, como Emerson e Wilson Fittipaldi e José Carlos Pace (que seriam pilotos de F-1 nos anos 60), e grandes nomes como Heins,Bird Clemente,Luis Pereira Bueno,todos sob a chefia de um mestre: Luis Greco.






Os anos de 1961 e 1962 ficam marcados pelas atuações de Heins, sempre perfeitas,a frente da Equipe Willys;Vem 1963.. consagrado como piloto,é convidado para disputar a mais importante prova de longa duração: as 24 Horas de LeMans;Assim Heins comentou na época:
"Fui convidado pela fábrica do Alpine na França, para pilotar seu carro nas 24 Hs de LeMans,o Alpine é idêntico ao automóvel que a Willys fabrica aqui com o nome de Interlagos, O que irei pilotar dessa vez, é um modelo novo que entrará na categoria de protótipo"



16 de junho,1963: 15:00 hs,é dada a largada...... as 20 hs, Heins liderava na sua categoria.quando o Aston Martin,pilotado por Bruce McLaren e Innes Ireland(tema do 1°post aqui),tem um problema no motor, ocasionando vazamento de óleo na pista: os 3 carros que vem logo atrás colidem,Heins derrapa, capota várias vezes,choca-se contra um poste e incendeia-se... Heins desmaia e fica preso as ferragens... Enquanto seu corpo,semi-carbonizado, é levado para o hospital, o Alpine ainda ardia em chamas na pista..
Ainda na pista, Waltraud,sua esposa,Max Pierce,seu amigo e patrão e seu pai recebem a notícia fatal...
Heins foi sepultado dia 27 de junho de 1963 no cemitério da Redenção em São Paulo..
em sua homenagem, a Willys batiza seu protótipo de Bino...que também foi vencedor como Heins.......



Heins pilotando o Interlagos versão Berlineta n°21


Bino Mark I em 1967, com Luiz Pereira Bueno ao volante


Bino Mark II em 1971, já com o logo Ford ( e mecânica do Corcel)
após a aquisição da Willys pela mesma