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domingo, 4 de janeiro de 2015

Luigi Musso

Itália: terra de mitos sobre rodas como Ferrari, Maserati e Alfa Romeo; país que conta com uma legião de fanáticos "tifosi" da scuderia de Maranello e amantes do automobilismo; Monza, Vallenunga,Mille Miglia,Targa Florio são provas históricas, mas algo é quase inexplicável: porque não produziu nenhum piloto campeão de F1 desde 1953?
Tenham certeza que não foi falta de revelar grandes nomes, ao contrário; Tem mais a ver com a tragédia que se abateu sobre todas as grandes promessas da Terra da Bota; foi assim com Ascari,Castelloti,Giunti,Bandini,Scarfiotti, e não foi diferente com ele, outro grande piloto italiano, que a morte colheu antes da glória;


Seu nome era Luigi Musso;Nascera em 28 de julho de 1928 na Cidade Eterna, Roma.
Era o filho mais novo dos cinco que o bem sucedido advogado Giuseppe Domenico Musso teve.
Junto com seus irmãos, Luigi teve uma infância abonada em uma bela casa próxima a Via Veneto;Mais aos 16 anos, a vida lhe dá um duro golpe, com a morte de seu pai; era o ano de 1944 e a Itália vivia mergulhada no caos e no horror da 2ºGuerra.Isso teve impacto gigantesco em Luigi, ajudando a se tornar o grande caráter que foi.
Luigi e os irmãos se tornaram herdeiros de uma considerável fortuna, o que lhe deu condições a se dedicar aos esportes: esgrima e hipismo chegou a praticar com algum sucesso, mas logo seria encantado pelo automobilismo;
Seu primeiro carro foi um simples Fiat Topolino, comprado 1 ano após a morte de seu pai.
Começa a frequentar, com seus irmãos mais velhos, a recém aberta oficina de Mimmo Dei, grande nome italiano nas pistas nos anos 20... Essa oficina no centro de Roma viria a se tornar a mítica Scuderia Centro Sud, que competiu por anos na F1 com modelos Maserati.
Os anos 50 se iniciam e com eles, a carreira de Musso; ainda em 1950,participa do Giro D'Itália com um pequeno Fiat 750cc; no ano seguinte termina em 2º na VIII Coppa Ascoli,(corrida não oficial no calendário de F1) , vencida por Franco Bordoni e com Maria Tereza de Fillipis, a primeira mulher a pilotar um F-1 na história, chegando em 3º.

(a temporada de F-1 de 1952 foi memorável também por ter sido a primeira em que uma equipe brasileira disputou, a Escuderia Bandeirantes, com os pilotos brasileiros Chico Landi e Gino Bianco,  pilotando Maseratis A6 GCM, isso 23 anos antes dos irmãos Fittipaldi e seu Copersucar).

Mas a estréia na F-1 para Luigi viria em 1953, a bordo da  Maserati A6GCM,graças ao apoio de Mimmo Dei.


Maserati A6GCM 1952 F-1

Na temporada de estréia,Musso consegue como melhor resultado,um modesto 7ºlugar no Grande Prêmio da Itália.
Musso disputaria as temporadas de 1953 a 1955 pela Maserati, mas já com a mítica 250F.( foi 8º colocado em 53 e 10º na temporada de 54).



Musso e os anos de Maserati



1956: a principal concorrente da Maserati, também era italiana, a Ferrari; o comendatore Enzo havia adquirido a estrutura da Lancia no ano anterior, seu principal projetista Vittorio Jano,o jovem galante Eugênio Castellotti (tema de posts anteriores) e o veterano campeão,Alberto Ascari (último italiano campeão);
Porém Ascari morre tragicamente, em um teste no circuito de Monza; uma vaga na scuderia de Maranelo precisava ser preenchida, e o escolhido foi Luigi Musso.
Assim as duas maiores promessas italianas eram companheiros de equipe: Castellotti e Musso.


Da esquerda para direita: Fangio (de chapéu), Musso, Castellotti (com a camisa da seleção italiana),Harry Schell e Alfonso de Portago, em Sebring, 1956..apenas Fangio chegaria aos anos 60 dentre nós....
Musso terminaria sua primeira temporada na Ferrari em 11º lugar .


Musso e a Ferrari /Lancia D-50


Musso em Mônaco, 1956


No ano seguinte, viria um duro golpe para Musso, a Ferrari e a Itália: a morte de Eugênio Castellotti a 14 de março...Musso porém ficaria sozinho na Ferrari por pouco tempo,logo uma dupla de pilotos britânicos desembarca em Maranelo: Peter Collins e Mike Hawthorn.

Tem início a uma intensa rivalidade entre o italiano e a dupla inglesa. (anos depois,Fiamma Breschi,namorada de Musso, disse que os dois ingleses tinham um acordo, qualquer um dos dois que ganhassem o titulo, iriam dividir os ganhos de modo igual).
Isso forçou Musso a dar o seu melhor em nome dos italianos para bater os dois.
Musso havia conseguido dois ótimos segundos lugares nos GPs da Argentina e de Mônaco e um 7º lugar na Holanda;
6º prova, o GP da França, no circuito de Reims: Musso estava decidido a conseguir uma vitória finalmente...porém o harpin Muzione,na 10º volta, não deixou...Musso perdeu o controle da Ferrari e caiu em uma vala,fazendo-o ser arremessado para fora do carro.Na noite daquele dia,num hospital ao lado da pista, ele não resistiu aos ferimentos e nos deixou.Hawthorn venceu a prova...
Sobre aquele dia, Fiamma Breschi disse que uma cena a marcou para sempre: quando voltava do hospital para o hotel,após a morte do namorado, viu Collins e Hawthorn jogando futebol com uma lata de cerveja vazia alegremente...Collins morreria ainda em 1958 no GP alemão na fatal Nurburgring Nordschife... Hawthorn seria campeão em 58... seria o primeiro e último título dele, que morreria em janeiro de 1959 num acidente de carro fora das competições......


A Ferrari de Musso após o acidente fatal em Reims










domingo, 23 de fevereiro de 2014

Bernd Rosemeyer



Alemanha, anos 30; Os Nazistas haviam tomado o poder,a histeria de uma grande nação
germânica tomava conta de muitos; Assim todas as glórias e conquistas de um alemão eram
prontamente  ursupadas como propaganda de um regime tenebroso; É nesse cenário que surge um dos maiores pilotos alemães de todos tempos : Bernd Rosemeyer.



Rosemeyer nasceu na pequena cidade de Lingen, na Baixa Saxonia, em 14 de outubro de 1909;
Seu pai era dono de uma pequena oficina, onde Bernd começou a trabalhar logo cedo;Eram tempos difícies de fato, a Alemanha havia perdido a Primeira Guerra, e duras imposições lhe foram feitas;Sua economia era o caos e grande parte da população vivia na pobreza.

Em 1930, aos 21 anos, Rosemeyer começou a competir com motos,sua grande paixão;
Foi contratado pela Zundapp para disputar o Speedway, campeonato de motos disputado em circuitos de terra. No ano seguinte passa a pilotar motos BMW em autódromos normais.
Mas a partir de 1934 vem a grande consagração... Bernd era piloto de motos da DKW,uma das 4 marcas que formavam a Auto Union ( juntamente com Horch,NSU e Wanderer).

E a Auto Union apesar de ter um carro simplesmente extraterreno para aquela época, o Typ C V-16, criado pelo genial professor Ferdinand Porsche, não conseguia bater sua compatriota Mercedes-Benz e sua W-125 guiada pelo lendário Rudolf Carraciola...ainda assim, as "flechas de prata",Mercedes e Auto Union estavam anos luz a frente dos "antiquados" rivais Alfa Romeo e Bugatti;
Mas apesar da Auto Union ser quase um OVNI, nenhum piloto conseguia controlar o modelo com motor central de inacreditáveis 500 cv!!!!

Porsche então pede aos engenheiros da Auto Union para testar novos pilotos, e assim Rosemeyer,que nunca havia guiado um carro de corridas,muito menos um como o Typ-C, foi convocado para o teste..

Nurburgring Nordscheife, o mitico "green hell";após 6 voltas no monstro V-16, Rosemeyer pulveriza os tempos feitos por todos os outros pilotos que já haviam passado pela Auto Union,incluindo Hans Stuck (pai do homonimo que correu na F-1 dos anos 1970);
Os técnicos e engenheiros da Auto Union paralizaram diante do feito; finalmente haviam achado alguém capaz de domesticar o dragão e guia-lo suavemente;


Rosemeyer e o monstruoso Auto Union Typ C V-16, que podia chegar a mais de 400 km/h, em 1935!!!!!!!

No GP alemão de 1935, em Nurburgring Nordscheife, Rosemeyer chega em 2º,apenas a 1,9 segundos de Caracciola e o W-125... e isso era apenas sua 2º prova oficial...

Sua primeira vitória vem ao final do ano, no circuito checo de Brno;
E nessa corrida, Rosemeyer conquista não apenas sua primeira vitória,mas o amor de sua vida, a jovem Elly Beinhorn






Casamento de Rosemeyer e Beihorn

Beihorn era uma aviadora famosa, a única mulher a cruzar o oeste da África,sobrevoando o deserto do Saara; Em 13 de julho de 1936 eles se casam.

Mas a Alemanha estava sob o dominio do mal.Toda e qualquer glória alemã deveria ser imediatamente usada como propaganda para demonstrar a superioridade nazista sobre o resto do mundo, as Olimpiadas de Berlin neste mesmo ano seria a demonstração máxima disso, e o casamento de dois grandes idolos do esporte alemão,não poderia passar sem ser usado pelos nazistas.

Himmler, o carniceiro chefe das temidas SS,vê nos pilotos alemães um poderoso instrumento de demonstração de poder, e assim os obriga a se filiar ao National Socialist Motor Corps; Rosemeyer é forçado a aceitar a filiação, mas teria dito:"jamais vestirei esta farda"(Em realidade, Rosemeyer odiava o nazismo e Hitler,pois temia que a Alemanha se visse novamente em uma guerra).
13 dias depois de seu casamento,(13 era seu número da sorte),Rosemeyer tem a atuação, que muitos consideram a mais brilhante de sua carreira,novamente guiando em Nurburgring;
Era o GP alemão de 36, a Auto Union vinha liderando com a Mercedes na cola, quando uma neblina começou a descer sobre a pista;logo se tornara um denso nevoeiro; Todos começaram a diminuir,muitos pararam;mas Rosemeyer não,ele continuou a guiar a Typ-C por Green Hell quase sem visão, voando pela Antoinus Busch a mais de 300 km/h; Era algo incrível,Rosemeyer parecia guiado por olhos sobrenaturais; a visibilidade não passava de 30 metros, mas Rosemeyer cruzou a linha em 1º, mais de 2 minutos a frente de Carraciola!
Desse dia em diante, ganhou o título de "Neibelmeister", o mestre da neblina;

O nº 13 o seguia de fato, sua última vitória em Nurburgring foi em 13 de julho de 1937, e sua última vitória na vida, a 13º da carreira foi em Donnington Park, diante de 50 mil ingleses estupefactos diante da imensa superioridade do Typ-C perante seus Sunbeams...

28 de janeiro,1938: O recorde de velocidade era dos alemães; ora do Auto Union, ora da Mercedes Benz...

era uma manhã fria, e na Autobahn Frankfurt-Darmstadt, a Auto Union levara sua Typ-C Streamline para bater mais uma vez o recorde de velocidade; A Streamline era um TypC com carrenagem aerodinâmica,que prometia passar do 400 km/h!



Typ-C Streamline 1937-1938

Um dia antes, Carraciola e a Mercedes Benz haviam chegado,no mesmo trecho da Autobanh a estrastosféricos 428 km/h ! ( impressionante estas marcas para os dias de hoje, quando o carro mais veloz de série,o Bugatti Veron chega a 401 km/h;o que dirá a 80 anos atrás...)

Rosemeyer entra em sua Typ-C;eram 11:47 da manhã.... o motor V-16 rosnava em alta rotação.400,405,410,415,420;434 km/h.. o Auto Union começa a se descolar do chão;pode ter sido uma rajada de vento,uma ondulação, mas o Typ C decola ao ar; arremessa Rosemeyer a centenas de metros. que cai, encostado ao barranco, como se estivesse sentado; Todos correm em sua direção,ainda estava vivo, mas por poucos minutos...

Rosemeyer morreu tentando um recorde de velocidade,não pelos nazistas,não por seu pais,mas porque amava ela, a viciante velocidade;
Não sobreviveu para ver o que mais temia, outra guerra,a loucura e crueldades nazistas e a quase total destruição de seu  pais;
Sua mulher e seu filho,nascido em novembro de 1937 sobrevivem a guerra (Elly morreu em 2007 aos 100 anos de vida);
Bernd Rosemeyer era um homem simples, que queria apenas ganhar corridas, mas foi vitima como milhões de outros seriam,de um regime nefasto.



O que sobrou do Auto Union de Rosemeyer



Memorial no ponto que o Auto Union levou a vida de Rosemeyer


O V-16 da Auto Union, soando como um grito de desespero de uma nação condenada..




domingo, 21 de julho de 2013

Eugenio Castellotti

Fino, elegante, galanteador; Seus modos contrastavam com seus companheiros naqueles primeiros anos da era da F-1;Eram típicos de quem nascera em uma família rica, poderia passar facilmente por um membro da nobreza;Dotado de um talento excepcional nas pistas, era a mais promissora esperança dos italianos após Ascari e Farina... mas uma aposta estúpida de seu chefe o vitimou fatalmente; seu nome era Eugenio Castellotti.



Eugenio Castellotti nasceu em 10 de outubro de 1930, na pequena cidade de Lodi, na Lombardia;
Eugenio vinha de uma abastada familia de Milão,e embora tivesse crescido em meio ao caos da II Guerra Mundial, teve uma infância e adolescência relativamente tranquila;
Milão era nesse época a meca automobilística da Itália: sua proximidade com o mitológico circuito de Monza e o fato de ser a casa da mais importante fábrica de carros esportes da Itália,a Alfa Romeo contribuíram para isso; A época do nascimento de Castellotti,era fascinada pela disputa entre o italiano Tazio Nuvolari e sua Alfa Romeo P3 contra o alemão Rudolf Caracciola e sua Mercedes prata;
Tazio era um  herói nacional e influenciou muito o jovem Castellotti;


Nuvolari e a Alfa Romeo P3 em ação nos anos 30

Aos vinte anos, no verão de 1950, Castellotti compra seu primeiro carro, e não era qualquer carro.. a maioria dos jovens italianos mal podiam comprar um surrado Fiat Topollino pré-guerra como primeiro carro,mas o de Castellotti foi uma Ferrari!
A Ferrari estava se firmando como uma grande marca, nas pistas e nos seus modelos de rua; criação de Enzo Ferrari (que foi piloto e chefe da scuderia de Nuvolari: as Alfas dele tinham o "Cavallino Rampante" pintado ao lado do Quadrifoglio milanês);
Com sua Ferrari, Castellotti começa a competir oficialmente em 1951; ano do titulo mundial de F-1 de Giuseppe Farina e sua Alfa Romeo;
em 1952 veio a primeira viória de Castellotti e sua Ferrari como piloto privado,(correndo com carro próprio e não de equipe) : o GP de Portugal.
Ao chegar em 2° na dificil prova da Mille Miglia de 1953, despertou interesse de uma fábrica italiana que havia decidido seguir os passos da Alfa Romeo e Ferrari  na F-1: a Lancia.


Castellotti e a Lancia D-50 de F-1 1955.

Castellotti disputaria a temporada de 1955 com a D-50; era um carro
rápido e bonito, criação do mítico engenheiro da Lancia, Vittorio Jano.
A Ferrari nessa época encontrava sérias dificuldades para se manter competitiva; as Alfas já não estavam mais em ação e a Lancia tornou-se a única capaz de enfrentar as W-196 da Mercedes Benz, que dominavam em todas as pistas;
Porém, ainda em 1955 a Lancia se viu em dificuldades financeiras; Enzo Ferrari vê uma oportunidade única:  trazer para sua equipe, motores,chassis e o trio que fez as Lancias D-50 respeitáveis: Castellotti e Alberto Ascari no volante e Jano na prancheta.


A nata da Lancia : Jano(1° a direita,de chapéu), Castellotti (a seu lado),Alberto Ascari e Luigi Villoresi (último a esquerda)

Assim 1955 estava relevando a promessa de vitórias na temporada seguinte para a scuderia de Maranello, mas um triste episódio marcou de forma negativa aquilo que parecia um sonho italiano:
Castelloti iria testar a novísssima Ferrari 650 Superleggera em Monza; tudo preparado para o teste começar,mas eis que chega Alberto Ascari; este pede para dar umas voltas com o carro antes do almoço.Diante do pedido de seu mentor, e idolo,Castellotti concorda e empresta seu capacete a Ascari..era dia 26 de maio de 1955...minutos após entrar no carro, Ascari se choca violentamente em uma curva e morre,(esta curva hoje tem o nome de "Variante Ascari" em sua homenagem);Uma semana antes, no GP de Monaco, Ascari havia escapado da morte depois de seu Lancia ter caido no mar, após um choque na chicane do porto;


Ferrari Superleggera 1955/1956, que vitimou Ascari

A morte de seu mentor deixa Castellotti profundamente abalado e marca uma terrivel rotina que abateria Enzo nas próximas décadas:a perda de grandes pilotos.


O Comendador Enzo e Castellotti




1956 se inicia, e Castellotti está no esquadrão de elite do automobilismo.. o posto de  piloto da Ferrari; vitorias e atuações brilhantes em provas como 24 Hs de Le Mans,Mille Miglia,12 hs de Sebring e tudo isso ao lado de ninguém menos que Juan Manuel Fangio, que fora contratado pela Ferrari após a retirada das pistas da Mercedes Benz, ocasionado pela tragédia de Le Mans 1955 (ver post sobre Pierre Levegh);
Somado ao sucesso nas pistas, Castellotti estava casado com a bela atriz e bailarina italiana, Delia Scala.


o belo casal : Castellotti e Delia Scala


Castellotti e a Ferrari 156 F-1 em Mônaco,1956

A dupla Enzo Ferrari e Eugênio Castellotti é o orgulho italiano, Castellotti é considerado o "nuovo Ascari".. nada parece ofuscar ou ameaçar o poderio italiano;nenhuma outra equipe de nenhuma outra nacionalidade parece fazer frente aos carros vermelhos "made in Italy";
A não ser outro carro vermelho italiano, e feito em Modena também;
1957: um novo concorrente surge para a Ferrari: sua vizinha Maserati
a Maserati havia estreado na F-1 na temporada de 1954,mas em 1957 finalmente sua obra máxima estava pronta e aprimorada, a 250 F;
a equipe de Adolfo Orsi roubara Fangio de Ferrari, para fazer dupla com o francês Jean Behra.


Fangio e a Maserati 250 F 1957

O circuito de Modena era o território da Ferrari, o recorde da pista lhe pertencia a anos, até o temperamental francês Behra ameaçar quebrá-lo com sua 250 F;Enzo não admitiria isso e apostou com Adolfo Orsi que Castellotti seria sempre mais rápido;  Enzo convocou Castellotti, que interrompeu suas férias com a esposa na Florença para atender um pedido egocêntrico de seu chefe;
14 de março de 1957, 8:00 hs da manhã; Castellotti entra na sua Ferrari pela última vez, começa a sua volta, em ritmo de classificação para atender o que Enzo queria, e então o desfecho trágico; a brutal batida quando a Ferrari desgarrou no Circollo della Biella; numa desaceleração de 137 km/h; a Ferrari com Castellotti voou por 91 mts e se chocou contra um muro de uma área coberta; Ele teve morte instantânea por uma fratura no crânio;


Notem onde parou a Ferrari de Castellotti

Quando soube da tragédia, Enzo Ferrari teria dito: "Castellotti è morto? no! nooooo! e la macchina?
A aposta que havia sido feita entre Ferrari e Orsi? quem perderia pagaria o café; Isso revoltou Luigi Villoresi, veterano e amigo de Castellotti, a ponto deste nunca mais na vida ter dirigido a palavra a Enzo Ferrari;

Tudo isso ficou perdido na noite dos tempos; a rivalidade entre Alfa Romeo,Maserati,Ferrari e Lancia não existe mais, são todas irmãs debaixo das asas protetoras da FIAT;
Não existem mais homens como Enzo, Orsi, Jano; nem pilotos como Castellotti;
Mas seus feitos permanecerão eternos, como marcos de coragem e romantismo;
Castellotti foi sem dúvida, depois de Ascari e Farina, o maior piloto italiano da F-1























sábado, 16 de fevereiro de 2013

Christian Heins

Não deixe se enganar pelo nome;Trata-se de um dos maiores pilotos que o Brasil já teve,juntamente com outros grandes nomes,fez parte no inicio dos anos 60 da mítica Equipe Willys de Competições e foi um dos responsáveis pelo surgimento de uma geração de pilotos que levaram o Brasil ao posto de respeito no mundo do automobilismo.



Christian Heins nasceu no bairro paulistano do Brooklin em 16 de janeiro de 1935; Era filho de um industrial alemão,Carl Heinrich Heins  e da italiana Giuliana de Fiori;
Na infância, pode sentir o clima de perseguição que pairava no Brasil do Estado Novo,contra imigrantes de origem alemã e italiana,devido ao Eixo da II Guerra;passa assim muito tempo com seu avô materno, médico, mas que, como bom italiano, era apaixonado por carros; E essa paixão contaminou Christian; No Ford Anglia inglês de seu avô, aprendeu a dirigir e mesmo capotando o carro,ali nascia seu futuro:ser um grande piloto.

Ao terminar sua formação secundária, decide ir a terra de seu pai,ainda em reconstrução após o tenebroso conflito,e em 1953 desembarca em Stuttgart para cursar a Escola Técnica de Nível Superior;lá enquanto estudava, estagiou na Mercedes Benz e na Mahle,tradicional fabricante de pistões;
Em 1954, então com 19 anos retorna ao Brasil e faz sua estréia nas pistas em 16 de maio, no imortal Autódromo de Interlagos; Interlagos que aquele tempo carecia da mais básica infra-estrutura para competições, o que torna estes bravos de primeira hora, verdadeiros heróis.


Interlagos, julho de 1959, dá para ter uma idéia da
estrutura da época (esse trecho,é hoje o final da reta dos boxes, antes do "S do Senna")

Heins era o mais novo da turma, e logo foi apelidado (por ser filho de uma italiana, e pela maioria dos então habitantes de São Paulo serem também) de "Bambino", que logo viraria apenas "Bino", e assim estava denominada a lenda.

em 1956, na 1° Mil Milhas de Interlagos, ele estava lá, e ao lado de Eugênio Martins, ao volante de um Fusca (ainda importado da Alemanha,o nacional viria apenas em 1959) com motor de Porsche, chega em 2°. Esse VW tinha sido preparado por um homem que teve uma importância ímpar para a cultura automobilística desse país,chefiando nos anos 60, as duas maiores equipes de fábrica e posteriormente sendo um dos fundadores da Puma : Jorge Lettry. Este feito, e com a ajuda do presidente da Mahle no Brasil, fizeram Heins ser contratado pela Porsche, e de 1957 a 1960 ele foi piloto da fábrica de Stuttgart


Heins a bordo de um Porsche 550 RS (provavelmente 1956) 

Heins retorna ao Brasil em 1960, com diversos troféus na bagagem e com uma alemã,Waltraud no coração; E na chegada ao Brasil, ocorre um fato que só em um país administrado por "burrocratas" como o nosso,poderia ocorrer: a Alfândega confisca seus troféus,alegando "não ter nota fiscal" (pode!). Esse fato rendeu uma carta de sua irmã Ornela ao então presidente Juscelino,pedindo a liberação dos troféus;
No regresso se torna piloto da equipe Vemag, organizada pela concessionária Serva Ribeiro (a maior revenda Vemag da época) e chefiada por Jorge Lettry;
Porém nos treinos para a V Mil Milhas, uma briga com o chefe da equipe faz Heins sair e ser substituido por outra lenda :Bird Clemente
Heins disputa a prova com o lendário Chico Landi, a bordo de um FNM/JK 2000 de n°28, sendo vencedor da prova!
A essa época a equipe Vemag de Competições era imbatível, despertando assim o interesse de outras montadoras para o automobilismo, que poderia ser um ótimo laboratório e uma propaganda melhor ainda; a primeira e mais bem sucedida fábrica a seguir o caminho foi a Willys Overland, através de uma decisão de seu presidente, o americano Max Pierce,no salão do automóvel de 1961; Nascia a poderosa Equipe Willys de Competição: seus carros seriam o 1093, um Renault Gordini mais "quente" e o recém lançado Interlagos, versão nacional do Renault Alpine francês ( a Willys apesar de americana, montava veiculos Renault sob licença)


A lendária Equipe Willys dos anos 60

Pela Equipe Willys passaram alguns novatos, como Emerson e Wilson Fittipaldi e José Carlos Pace (que seriam pilotos de F-1 nos anos 60), e grandes nomes como Heins,Bird Clemente,Luis Pereira Bueno,todos sob a chefia de um mestre: Luis Greco.






Os anos de 1961 e 1962 ficam marcados pelas atuações de Heins, sempre perfeitas,a frente da Equipe Willys;Vem 1963.. consagrado como piloto,é convidado para disputar a mais importante prova de longa duração: as 24 Horas de LeMans;Assim Heins comentou na época:
"Fui convidado pela fábrica do Alpine na França, para pilotar seu carro nas 24 Hs de LeMans,o Alpine é idêntico ao automóvel que a Willys fabrica aqui com o nome de Interlagos, O que irei pilotar dessa vez, é um modelo novo que entrará na categoria de protótipo"



16 de junho,1963: 15:00 hs,é dada a largada...... as 20 hs, Heins liderava na sua categoria.quando o Aston Martin,pilotado por Bruce McLaren e Innes Ireland(tema do 1°post aqui),tem um problema no motor, ocasionando vazamento de óleo na pista: os 3 carros que vem logo atrás colidem,Heins derrapa, capota várias vezes,choca-se contra um poste e incendeia-se... Heins desmaia e fica preso as ferragens... Enquanto seu corpo,semi-carbonizado, é levado para o hospital, o Alpine ainda ardia em chamas na pista..
Ainda na pista, Waltraud,sua esposa,Max Pierce,seu amigo e patrão e seu pai recebem a notícia fatal...
Heins foi sepultado dia 27 de junho de 1963 no cemitério da Redenção em São Paulo..
em sua homenagem, a Willys batiza seu protótipo de Bino...que também foi vencedor como Heins.......



Heins pilotando o Interlagos versão Berlineta n°21


Bino Mark I em 1967, com Luiz Pereira Bueno ao volante


Bino Mark II em 1971, já com o logo Ford ( e mecânica do Corcel)
após a aquisição da Willys pela mesma















sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Carlos Alberto Pavan "Jacaré"

Motos não são minha paixão em termos de velocidade,(embora tenha um primo distante várias vezes campeão de motovelocidade chamado Walter "Tucano" Barchi);Mas abrirei uma brecha aqui para lembrar um grande piloto motociclista: rápido,ousado,irreverente;A velocidade e seus efeitos eram o que mais amava;Seu nome era Carlos Alberto Pavan, ou simplesmente,Jacaré;



Nascido em Poços de Caldas, MG em 29 de maio de 1952; Uma infância marcada pela dificuldade : a separação dos pais, a mãe indo para MG; Carlos e o irmão ficam em SP com o pai; a relação entre eles conturbada;
Assim a adolescência de Jacaré foi marcada pela rebeldia;mal se formou no 3° colegial, e aos 16 anos foi arrebatado pela paixão por motos e velocidade;
Começou andando na Mondial de um amigo até conseguir sua primeira moto, uma Norton 500, de fabricação inglesa


Norton 500 cc 1957

Foi graças a seu trabalho como mecânico que conseguiu comprá-la, mas logo aquilo que seria uma triste rotina em sua vida aconteceu: em um acidente durante um "passeio" destruiu a Norton por completo;

Mas outra marca sua era a persistência, e assim aos 20 anos, convence Luiz Latorre a lhe emprestar sua moto, uma Ducati 250 para começar a competir;


Jacaré e a Ducati 250 em Interlagos aos 20 anos, em 1972

Jacaré tem uma estréia promissora, com a moto de Latorre consegue boas posições no campeonato de 1972;
Mas o ano de 1973 guardava seu melhor para Jacaré: Denisio Casarini e Walter "Tucano" Barchi, os dois maiores nomes da motovelocidade da época ( e de todos os tempos),  que corriam pela equipe de Edgard Soares, são contratados pela recém montada equipe oficial da Yamaha;  Edgard,irritado com o fato,diz: - "Vocês pensam que são grandes pilotos, não? Pois eu vou pegar um moleque da rua e fazer dele um campeão !"
O "moleque da rua" foi Jacaré.


Jacaré com a moto de Edgard Soares no inicio de 1973; em pé ao lado, o lendário mecânico Chico Sapão, e a esq, Caiuby Rhormens , presidente da Confederação Brasileira de Motociclismo

A primeira vitória viria no final do ano, com uma  Yamaha TR-3, com o mítico n°46 (n° que se tornou marca registrada de Edgard Soares,já falecido;hoje este n° é a marca de uma concessionária Kasinski em SP)


Jacaré e a Yamaha TR-3 n°46

O ano de 1974 seria o mais importante e vitorioso da carreira de Jacaré; Em fevereiro a temporada se iniciava com a famosa Taça Centauro, disputada por pilotos internacionais e os maiores nomes do país: Jacaré termina em 5° pilotando uma antiquada TR3, atrás apenas do campeão mundial de 1973, Kent Anderson  e dos monstros brasileiros Adu Celso, Denísio Casarini e Walter Tucano Barchi, todos pilotando modernas Yamaha TZ 350 oficiais de fábrica...

Março: as 24 Horas de Interlagos; Edgard prepara uma BMW para a disputa que seria pilotada por Jacaré e  Edmar Ferreira; Jacaré vinha entre as primeiras posições, quando a sina o atinge novamente: uma queda e a mão esquerda fraturada; Edmar assume, e ai Jacaré mostra do que era feito: outro teria ido pra casa, ele não, foi ao hospital, engessa a mão e volta a Interlagos para continuar a disputa;só não terminou a prova devido ao motor da BMW não ter aguentado até o final;


Jacaré pilotando a BMW com a mão fraturada nas 24 Hs de Interlagos,1974

O Campeonato Paulista começa em abril e Jacaré ganha de Edgard uma TZ-350 novinha para competir; E com ela conquista em maio, em dupla com o venezuelano Johnny Ceccoto (que depois competiu na F-1),as 500 Milhas de Interlagos, prova que constava do calendário internacional


Jacaré e a TZ 350 em Interlagos,durante as 500 Milhas 1974

É de Jacaré a primeira vitória oficial do circuito de Goiânia, inaugurado em julho de 1974;

Em agosto conquista por antecipação o Campeonato Paulista e se torna líder isolado do Campeonato Brasileiro;
Em 19 de agosto de 1974, crava seu nome na história de Interlagos, ao vencer a mais veloz prova disputa no Hemisfério Sul, as 200 Milhas de Interlagos no anel externo; 


Jacaré na TZ 350 de n° 4 no antigo anel externo de Interlagos

(após a reforma de 1990, o anel externo foi inutilizado e assim o recorde de velocidade nele para uma moto, é de Jacaré para a eternidade)

Mas correr só nas pistas não satisfazia Jacaré, e isso foi sua ruína : rachas, exibições em avenidas e ruas, acidentes... As broncas de seu chefe Edgard cada vez mais constantes


Jacaré se exibindo em cima de uma moto em plena R Augusta

Faltavam duas provas para o término do campeonato de 1974;Ambas em Goiânia; na primeira delas, após o acidente que vitimou fatalmente  Hélio Gumerato nos treinos, Jacaré chega em 2°, atrás de Edmar Ferreira; bastaria completar a prova seguinte na zona de pontuação para ser campeão; Mas isso não ocorreu: Dias antes, Jacaré sofre um gravíssimo acidente na garupa de um amigo,durante um pega no Elevado Costa e Silva (o "Minhocão).
Jacaré fratura a bacia, fêmur,e rótula direitas e a tíbia esquerda;

O título se fora, juntamente com os patrocinadores, com seu contrato com Edgard... Muitos decretaram que era o fim da carreira de Jacaré...diziam os médicos que ele corria sérios riscos de nunca mais dobrar a perna direita e assim estar definitivamente inutilizado;


Jacaré visivelmente abatido, de muletas, nas 24 Hs de Interlagos em 1975;

1975 começa de modo sombrio diriam muitos... Mas a persistência novamente fez o que parecia impossivel: Jacaré consegue se recuperar e voltar;
Com a ajuda do amigo Manolo, que lhe imprestou uma Kawasaki 900, Jacaré se inscreve nas 200 milhas de Interlagos 1975;
Duas semanas antes da prova porém, outro acidente nas ruas quase põe mesmo um ponto final em tudo: nova queda e uma clavícula fraturada;
Com a mesma ainda em fratura instável, Jacaré está no grid de largada com a Kawasaki,e numa prova de total superação de tudo: da dor física, do abandono,da falta de apoio,Jacaré vence de modo espetacular as 200 milhas na categoria Esporte!


Jacaré com a clavícula quebrada no lugar mais alto do pódio nas 200 milhas de Interlagos 1975

Sua fala no pódio era embargada pela emoção; " Vocês verão, serei outro daqui para frente, mudarei, serei campeão enfim!"

Mas infelizmente o que aconteceu foi diferente: 23 de agosto de 1975, já era madrugada de inverno em São Paulo; Jacaré está a bordo de um Porsche guiado por um amigo, quando passam pela Av Cidade Jardim, uma dos mais refinados endereços de São Paulo, quando por eles passa uma Honda CB 750 Four, ou mais conhecida como ''7 Galo", literalmente voando... o Porsche a alcança num farol, e de relance, Jacaré decide fazer um pega; Empresta outra  Honda 750 de alguém e saem em alta velocidade; Na altura do restaurante Pandoro, aparece um Opala na frente dos dois: Assustado com o ronco aterrorizante da 7 Galo, o motorista do Opala puxa o carro da esquerda para a direita, cortando a trajetória de Jacaré;
E assim. a 150 Km/h Jacaré entra na traseira do Opala, tendo morte instantânea;
Estava tudo acabado; Os sonhos do menino rebelde de Poços de Caldas estavam
mortos;era o triste fim de uma vida marcada pelo entusiasmo;
Seu cortejo fúnebre foi uma das cenas mais marcantes do mundo da velocidade: 2000 motos com cravos vermelhos nos guidões seguindo o carro fúnebre...



A emocionante narrativa da morte de Jacaré pela voz do radialista Hélio Ribeiro




Esse foi o ronco que assustou o motorista do Opala em 23 de agosto de 1975:
o inconfundível 4 em 1 da 750 CB Four "7 Galo"