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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Christian Heins

Não deixe se enganar pelo nome;Trata-se de um dos maiores pilotos que o Brasil já teve,juntamente com outros grandes nomes,fez parte no inicio dos anos 60 da mítica Equipe Willys de Competições e foi um dos responsáveis pelo surgimento de uma geração de pilotos que levaram o Brasil ao posto de respeito no mundo do automobilismo.



Christian Heins nasceu no bairro paulistano do Brooklin em 16 de janeiro de 1935; Era filho de um industrial alemão,Carl Heinrich Heins  e da italiana Giuliana de Fiori;
Na infância, pode sentir o clima de perseguição que pairava no Brasil do Estado Novo,contra imigrantes de origem alemã e italiana,devido ao Eixo da II Guerra;passa assim muito tempo com seu avô materno, médico, mas que, como bom italiano, era apaixonado por carros; E essa paixão contaminou Christian; No Ford Anglia inglês de seu avô, aprendeu a dirigir e mesmo capotando o carro,ali nascia seu futuro:ser um grande piloto.

Ao terminar sua formação secundária, decide ir a terra de seu pai,ainda em reconstrução após o tenebroso conflito,e em 1953 desembarca em Stuttgart para cursar a Escola Técnica de Nível Superior;lá enquanto estudava, estagiou na Mercedes Benz e na Mahle,tradicional fabricante de pistões;
Em 1954, então com 19 anos retorna ao Brasil e faz sua estréia nas pistas em 16 de maio, no imortal Autódromo de Interlagos; Interlagos que aquele tempo carecia da mais básica infra-estrutura para competições, o que torna estes bravos de primeira hora, verdadeiros heróis.


Interlagos, julho de 1959, dá para ter uma idéia da
estrutura da época (esse trecho,é hoje o final da reta dos boxes, antes do "S do Senna")

Heins era o mais novo da turma, e logo foi apelidado (por ser filho de uma italiana, e pela maioria dos então habitantes de São Paulo serem também) de "Bambino", que logo viraria apenas "Bino", e assim estava denominada a lenda.

em 1956, na 1° Mil Milhas de Interlagos, ele estava lá, e ao lado de Eugênio Martins, ao volante de um Fusca (ainda importado da Alemanha,o nacional viria apenas em 1959) com motor de Porsche, chega em 2°. Esse VW tinha sido preparado por um homem que teve uma importância ímpar para a cultura automobilística desse país,chefiando nos anos 60, as duas maiores equipes de fábrica e posteriormente sendo um dos fundadores da Puma : Jorge Lettry. Este feito, e com a ajuda do presidente da Mahle no Brasil, fizeram Heins ser contratado pela Porsche, e de 1957 a 1960 ele foi piloto da fábrica de Stuttgart


Heins a bordo de um Porsche 550 RS (provavelmente 1956) 

Heins retorna ao Brasil em 1960, com diversos troféus na bagagem e com uma alemã,Waltraud no coração; E na chegada ao Brasil, ocorre um fato que só em um país administrado por "burrocratas" como o nosso,poderia ocorrer: a Alfândega confisca seus troféus,alegando "não ter nota fiscal" (pode!). Esse fato rendeu uma carta de sua irmã Ornela ao então presidente Juscelino,pedindo a liberação dos troféus;
No regresso se torna piloto da equipe Vemag, organizada pela concessionária Serva Ribeiro (a maior revenda Vemag da época) e chefiada por Jorge Lettry;
Porém nos treinos para a V Mil Milhas, uma briga com o chefe da equipe faz Heins sair e ser substituido por outra lenda :Bird Clemente
Heins disputa a prova com o lendário Chico Landi, a bordo de um FNM/JK 2000 de n°28, sendo vencedor da prova!
A essa época a equipe Vemag de Competições era imbatível, despertando assim o interesse de outras montadoras para o automobilismo, que poderia ser um ótimo laboratório e uma propaganda melhor ainda; a primeira e mais bem sucedida fábrica a seguir o caminho foi a Willys Overland, através de uma decisão de seu presidente, o americano Max Pierce,no salão do automóvel de 1961; Nascia a poderosa Equipe Willys de Competição: seus carros seriam o 1093, um Renault Gordini mais "quente" e o recém lançado Interlagos, versão nacional do Renault Alpine francês ( a Willys apesar de americana, montava veiculos Renault sob licença)


A lendária Equipe Willys dos anos 60

Pela Equipe Willys passaram alguns novatos, como Emerson e Wilson Fittipaldi e José Carlos Pace (que seriam pilotos de F-1 nos anos 60), e grandes nomes como Heins,Bird Clemente,Luis Pereira Bueno,todos sob a chefia de um mestre: Luis Greco.






Os anos de 1961 e 1962 ficam marcados pelas atuações de Heins, sempre perfeitas,a frente da Equipe Willys;Vem 1963.. consagrado como piloto,é convidado para disputar a mais importante prova de longa duração: as 24 Horas de LeMans;Assim Heins comentou na época:
"Fui convidado pela fábrica do Alpine na França, para pilotar seu carro nas 24 Hs de LeMans,o Alpine é idêntico ao automóvel que a Willys fabrica aqui com o nome de Interlagos, O que irei pilotar dessa vez, é um modelo novo que entrará na categoria de protótipo"



16 de junho,1963: 15:00 hs,é dada a largada...... as 20 hs, Heins liderava na sua categoria.quando o Aston Martin,pilotado por Bruce McLaren e Innes Ireland(tema do 1°post aqui),tem um problema no motor, ocasionando vazamento de óleo na pista: os 3 carros que vem logo atrás colidem,Heins derrapa, capota várias vezes,choca-se contra um poste e incendeia-se... Heins desmaia e fica preso as ferragens... Enquanto seu corpo,semi-carbonizado, é levado para o hospital, o Alpine ainda ardia em chamas na pista..
Ainda na pista, Waltraud,sua esposa,Max Pierce,seu amigo e patrão e seu pai recebem a notícia fatal...
Heins foi sepultado dia 27 de junho de 1963 no cemitério da Redenção em São Paulo..
em sua homenagem, a Willys batiza seu protótipo de Bino...que também foi vencedor como Heins.......



Heins pilotando o Interlagos versão Berlineta n°21


Bino Mark I em 1967, com Luiz Pereira Bueno ao volante


Bino Mark II em 1971, já com o logo Ford ( e mecânica do Corcel)
após a aquisição da Willys pela mesma