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domingo, 28 de agosto de 2011

Tom Pryce

Os anos 70 foram sem dúvida, os mais trágicos e sombrios da história da F1 e do automobilismo;Muitas vidas se foram em virtude da falta de segurança das pistas,de carros que eram verdadeiras armadilhas fatais, do despreparo de fiscais e comissários de prova; E foi a soma de todos estes fatores que provocaram o acidente mais tenebroso desse período,acidente que ceifou a vida de Tom Pryce.



Tom Pryce


Thomas Maldwyn Pryce nasceu em 11 de junho de 1949,na cidade de Ruthin, condado de Denbighsire, País de Gales; filho de Jack e Gwyneth Pryce. Seu pai havia sido piloto de bombardeiro da RAF na 2° Guerra Mundial (pilotava os temidos Avro Lancaster);sua mãe era enfermeira no posto de seu distrito.Seu irmão mais velho falecera quando Tom tinha 3 anos, o tornando filho único.
Pryce começou a se interessar por automóveis aos 10 anos, quando dirigiu uma van de padaria!Porém seu interesse maior era a aviação, e a exemplo do pai, ser um piloto da RAF;Anos mais tarde diria que desistiu por que não se achava "inteligente o suficiente" para pilotar um caça.
De criança, seu ídolo era o escocês piloto da Lotus, o mítico Jim Clark;assim quando este faleceu em Hockenhein em 1968, Tom teve sua primeira tristeza no automobilismo;Mesmo assim começou a competir de Fórmula Ford inglesa em 1969, estreando na prova de Mallory Park.Disputou as temporadas de 1969 a 1971 nessa categoria, sendo que na prova em Silverstone durante a temporada de 1970, venceu sob uma chuva torrencial, e deu inicio a fama de piloto imbatível em pistas molhadas; em 1973 disputou a F3, e em 1974 vem a grande chance, ser piloto de F1;estreiou a bordo de um mediocre Token, mas seu desempenho chamou a atenção da Shadow Cars; e assim Tom foi contratado para substituir Peter Revson ( que por uma macabra concidência falecera na mesma pista que Tom, Kyalami,pilotando a mesma Shadow de n°16);



Tom Pryce e seu Shadow F1 em 1975

A Shadow era um carro sinistro em todos os aspectos (a começar pelo nome,traduzido como sombra,espectro ou fantasma):era insegura,como a maioria dos F1 dos anos 70 e toda pintada na cor preta...
Pryce terminou a temporada de 1975 em 8° e a de 1976 em 10°.Então vem o ano de 1977; e Pryce tinha esperanças renovadas; a Shadow apresentara um novo modelo, (pintado em branco e azul);Era um carro mais estável e enfim daria alguma chance ao talentoso piloto galês.
3° etapa do mundial,em Kyalami, na conturbada África do Sul em pleno apartheid; dia 5 de março de 1977;Após uma quebra no GP do Brasil(2° etapa) Pryce alinha seu Shadow no grid de largada;Após um problema na largada, cai para último lugar,mas dá incio a uma arrancada excepcional, e em 20 voltas sobe para a 11°posição;


                                                        Pryce e a Shadow 16 em Kyalami,1977


21°volta:por uma trágica ironia, a Shadow de n°17, do companheiro de Pryce, Renzo Zorzi, para por problemas no motor na reta dos boxes; mal Renzo desce do carro,o motor incendeia-se; Então a tragédia se desenha: dois jovens e despreparados fiscais,atravessam a pista carregando pesados extintores;o primeiro escapa dos carros por pouco,mas o segundo, um jovem de 18 anos chamado Jensen Van Vuuren não tem a mesma sorte e é atingido em cheio pelo carro de Pryce, a 275 km/h; O impacto é tão brutal que o corpo de Jensen se desmembra ao meio; Pryce é bizarramente atinigindo na cabeça pelo extintor, que arranca seu capacete e fratura seu crânio por completo (a ponto de seu rosto se tornar uma pasta ensanguentada); O carro desgovernado,com um morto ao volante, continua em linha reta e atinge a Ligier de Jacques Laffite;O único galês a pilotar e vencer na F1 estava morto; Morrera ironicamente onde seu antecessor de equipe também perecera e no local onde milhares de seus compatriotas, soldados do 22° Regimento de Galeses Fronteriços haviam tombado,aos pés do monte Isandawana, em janeiro de 1879;
E da canção militar cantada por eles,tiro um verso que pode resumir o perfil galês de Tom Pryce
"Sempre pronto para a batalha;
 Um galês jamais se rende."




                           Vídeo do acidente fatal de Pryce: Atenção! as cenas são fortes...



Vídeo-tributo ao galês Tom Pryce



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

David Purley

Muitos pilotos se destacaram por arrojo e agressividade;Outros por um estilo cerebral e calculado;Alguns por sua regularidade e equilíbrio, mas poucos,muito poucos se destacaram por um outro fator: solidariedade e companheirismo.Dentre estes, sem dúvida o nome maior é de David Purley.
David Charles Purley nasceu em Bognor Regis,condado de Essex,Inglaterra em 26 de janeiro de 1945.
Antes de se dedicar ao automobilismo,Purley serviu ao British Army(exército britânico),como paraquedista,em Aden, Yemen



David Purley

Seu pai, Charles Purley havia fundado a LEC Refrigeration, uma das maiores fabricantes de refrigeradores do mundo; e com o patrocínio dela que David começa a competir.
O inicio foi em provas de turismo, onde se destacou pilotando um AC Cobra ( a mítica criação de Carol Shelby, colocando um enorme motor Ford 429 V8 na carroceria do esportivo AC Ace inglês).


Purley e o AC Cobra em Lydden,1968 ( prova que terminou em 2°)

Competiu também com um Chevron B8, obtendo um 2° lugar em Snetterton,3° em Mallory Park e 4° em Thruxton, todas em 1969.


Chevron B8 1969, idêntico ao pilotado por Purley

Em 1970 começa a competir na F3 inglesa, onde conheçe aquele que seria seu grande amigo e protagonista da cena mais triste e ao mesmo tempo heroíca da F1, Roger Williamson.
Sua estréia foi a bordo de uma Brabham BT-28 de F3;competiu nessa categoria de 1970 a 1972;em 1971 disputou a pré temporada de F3 no Brasil, sendo 3° em Interlagos e 8° em Tarumã.


Williamson no carro 28,seguido de Purley no n°45 em prova
pela F-3 inglesa em 1971.

Em 1973, juntamente com seu amigo Williamson, estreia na F1, a bordo de um March 731, com o patrocinio das empresas da família;


Purley e o March 731 no GP da Inglaterra,1973

Sua primeira prova foi o GP de Mônaco;não foi o que se esperava,pois o March falhou na largada; seria uma temporada discreta, não fosse por um GP: o da Holanda,em Zandvoort, a 29 de julho.
Nessa prova, seu amigo Williamson fazia sua 2° corrida na F1, a bordo também de um March 731 ( só que este pela equipe oficial, a STP March F1); e numa macabra coincidência, na 13°volta,pilotando o STP March n°13, sofre um grave acidente;
O March bate, vira de lado e se incendeia;Purley que vinha logo atrás, toma a atitude que o transformaria no simbolo da amizade,humanismo e coragem: para seu carro, atravessa a pista correndo para resgatar o amigo dos restos em chamas;
Diante dos atônitos e incompetentes fiscais holandeses,Purley tenta virar o March sozinho,com o fogo queimando suas luvas,ouvindo os gritos de socorro de Williamson;durante 8 minutos, Purley tenta de tudo para salvar o amigo, mas a incompetência dos fiscais impede seus esforços;Desolado,Purley caminha de um lado para outro,uma cena que a meu ver, é a mais triste de toda a história da F1.


Video do acidente de Williamson e a tentativa de Purley.

Na maior demostração de perversidade já vista na F1, o corpo de Roger permaneceu nos destroços do March até o fim da prova,provocando uma visão macabra a cada volta para os pilotos que continuaram a corrida;menos para Purley. Ele se retirou em respeito ao amigo querido que tentou salvar, mesmo pondo a sua própria vida em perigo.
Purley abandonou a F1 na sua temporada de estreia,retornando somente em 1977;
Sofreria um gravissimo acidente nesse retorno,nos treinos do GP da Inglaterra:fraturou as pernas,pelvis e costelas, devido a brutal desaceleração ( de 173 Km/h a 0 em 66 centímetros!),após bater em um muro; foi exposto a 179.8 G (a força da gravidade) e sobreviveu!
Mas Purley deixaria este mundo em 1985,numa competição aérea, pilotando um biplano Ptis Special de acrobacia, sobre o mar da região onde nasceu;
Purley assim teve o destino de muitos heróis ingleses como ele,que partiram sobre o mar durante a Batalha da Inglaterra na 2° Guerra Mundial


                David Purley : para quem uma vida e amizade valiam mais que os milhões dos patrocinadores de corridas